Persongens


Hoje eu publiquei a capa do meu livro O Evangelho de Edson Marques, cujo autor é Paritosh Keval. Paritosh é para mim o que Louis Lambert foi para Balzac. Esse alter ego de Balzac é magnífico. Comecei a ler então sobre Louis Lambert, e acabei chegando novamente a Swedenborg. Este personagem vale um pouco mais de leitura. É o meu Personagem da Semana:

Emanuel Swedenborg

Polímata, nasceu em Estocolmo, Suécia, em 1688. Morreu em 1772.

Foi catedrático de Matemática na Universidade de Uppsala, e pesquisou a fundo áreas tão distintas quanto anatomia, geologia, física, astronomia, hidráulica e filosofia. Quando dominava o assunto, publicava obras sobre suas conclusões, obtendo o respeito de outros especialistas e autores das diversas áreas. Vários conceitos emitidos por Swedenborg, nesses estudos, são considerados como pioneiros. Em razão dessas realizações, Swedenborg passou a ser considerado um dos heróis nacionais na Suécia.

Famoso pelas suas obras e rico por herança materna, esse homem dominou praticamente todas as ciências de seu tempo, até que, aos 56 anos, relata que um fato espantoso mudou sua vida. Afirma que foi designado por Jesus Cristo, "que a ele apareceu em 1744", para a missão de ser o porta-voz da revelação do sentido interno ou espiritual da Bíblia, até então oculto. Ao ser revelado esse sentido, também foram abertos os segredos do "o Céu, e as Suas maravilhas, e o Inferno", como descreveu, e tornou-se, também, testemunha ocular dos eventos que constituíram o Juízo Final. Mais tarde, Swedenborg reconheceu que foi, aliás, por causa dessa missão espiritual que ele fora preparado por Jesus desde a infância, e progrediu nos conhecimentos naturais sem nunca olvidar a fé no Criador.


Os Escritos admiráveis que foram publicados a partir desse período têm influenciado mentes de homens, mulheres e crianças, tanto pessoas humildes quanto da realeza, anônimos ou lustres famosos, como Carlyle, Ralph Waldo Emerson, Baudelaire, Balzac, William Blake, Helen Keller e Jorge Luís Borges. No entanto, esses mesmos escritos teológicos e espirituais são motivo para que se façam julgamentos parciais e de interesses, lançando dúvida sobre a sanidade mental do autor e sua reputação científica anterior. Por causa de sua teologia, Swedenborg sofreu censura e forte perseguição por parte de religiosos cristãos em seu país, onde seus livros foram proibidos. De fato, a doutrina por ele exposta abala as bases da crença tradicional do cristianismo, a saber, em um Deus dividido em três pessoas, num sacrifício sanguinário de uma pessoa (o Filho), para aplacar a ira da outra pessoa (o Pai).


Por confrontarem à teologia cristã atual, suas obras foram tidas como heréticas, embora ele tenha sempre se declarado um servo do "Senhor Jesus Cristo". A teologia exposta por Swedenborg juntamente com o relato das experiências tão vivas no plano espiritual desconcertam muitos religiosos, os que, teoricamente, mais deviam saber sobre o espírito e a vida após a morte, pois que estas coisas foram dadas muitos desses indivíduos, sentindo-se ameaçados, reajam contra essa nova abertura da revelação e, especialmente, contra o autor, fazendo circular boatos difamadores a respeito de sua sanidade. Em virtude disso, também a sua reputação anterior de grande cientista e filósofo ficou comprometida.


Mas Swedenborg continuou a escrever e a trabalhar como antes, sem se importar com as críticas, convicto de que sua obra seria para um futuro distante, com a serenidade dos que sabem o que estão fazendo, serenidade que o acompanhou até a sua morte física, em 29 de março de 1772, a qual ele também tinha previsto com semanas de antecedência. Ele foi enterrado na catedral luterana de Londres que havia sido criada em 1710, por seu pai, mas, em 1908, seu corpo foi transportado para ser enterrado na Catedral de Uppsala.
A partir de seus escritos teológicos, fundou-se a Nova Igreja.


Cientista
Estudou e publicou várias obras que abrangiam áreas tão diversas como: química, óptica, matemática, magnetismo, hidráulica, acústica, metalurgia, anatomia, hidrostática, fisiologia, pneumática, geologia, mineração, cristalografia, cosmologia, cosmogonia, dinâmica, astronomia, álgebra, mecânica geral e outras.


Filósofo
Além de publicar diversos tratados de filosofia, formulou e desenvolveu as doutrinas filosóficas sobre o influxo, os graus, as formas, as séries e a ordem. Na área da psicologia, publicou, entre outros, os tratados: Psicologia Empírica (1733), um estudo sobre a obra de Christian Wolff, e Psicologia Racional (1742), contendo muitos princípios filosóficos e observações inéditas baseados nas suas observações sobre anatomia.


Teólogo
Nos últimos 27 anos de sua vida, escreveu mais de 40 títulos de exegese bíblica, Cristologia, escatologia e doutrina geral, expondo, por meio da Ciência das Correspondências, o sentido interno ou espiritual que jazia oculto na Palavra. Assim, restaurou os fundamentos primitivos do cristianismo, a saber, a fé em Jesus Cristo como Deus que Se fez carne, bem como outras doutrinas básicas, sobre a fé, a caridade, a vida, a Escritura Santa, o casamento etc.


Inventor
Fez esboços, em 1714, de uma "máquina de voar", que foi considerada pela Academia Real Britânica de Aeronáutica como o primeiro projeto racional de um avião. Inventou vários outros artefatos e instrumentos mecânicos; alguns construiu, outros deixou apenas em esquemas, como uma bomba hidráulica; um dique para construção naval; um guindaste; um compressor a mercúrio; uma carreta mecânica com guindaste; um máquina de parafusar; um instrumento de sopro; uma metralhadora; uma máquina elevadora para extração de minério; um "navio capaz de submergir com a sua tripulação e assim escapar da esquadra inimiga " (o submarino!) além de outros.


Descobridor pioneiro, foi o primeiro a propor a hipótese nebular da criação do universo, meio século antes de Kant e Laplace; fez descobertas que deram origem à ciência da cristalografia; desenvolveu teorias sobre a natureza da energia; descobriu que o cérebro funciona em sincronia com os pulmões; deduziu o uso do fluido cérebro-espinhal; foi pioneiro no estudo do magnetismo; apresentou a teoria de galáxias serem constituídas por estrelas com sistemas planetários.


Político
Foi membro atuante do Parlamento por vários anos, tendo apresentado muitas propostas para o desenvolvimento industrial, financeiro e social da Suécia.


Artífice
Praticou as artes da música (como organista), criou instrumentos musicais, aprendeu a fazer encadernação de livros, técnicas de relojoaria, gravação de metal, marmoraria, polimento de lentes, jardinagem etc.


Literato
Além das obras científicas e teológicas relacionadas nesta página, Swedenborg publicou a primeira álgebra na língua sueca, escreveu poemas e fábulas, editou um jornal científico intitulado Daedalus Hyperboreus, escreveu biografias e histórias.


Poliglota
Falava sueco, holandês, inglês, francês, alemão, hebraico, grego, latim e italiano.
As obras teológicas de Swedenborg têm sido traduzidas, no todo ou em parte, do original latim para as seguintes línguas: alemão, árabe, birmanês, chinês, dinamarquês, espanhol, esperanto, filipino, finlandês, francês, gujarati, hindu, holandês, inglês, islandês, italiano, japonês, magiar, norueguês, polonês, português, russo, servo-croata, sueco, tamil, tcheco, welsh e zulu.


Relatos sobrenaturais
Diversas ocorrências marcantes de habilidade considerada mediúnica foram relatadas sobre Swedenborg. Três delas foram as mais famosas, tendo sido analisadas por Immanuel Kant, concluindo tratarem-se de lendas.
A primeira foi quando, durante um jantar em Gotemburgo, ele, excitadamente, contou aos presentes às seis horas da tarde que estava havendo um incêndio em Estocolmo (a 405 km de onde estavam) e que ele consumia a casa de um vizinho seu, estando a ameaçar a sua própria. Duas horas mais tarde, ele exclamou, com alívio, que o fogo tinha parado a três portas da sua casa. Dois dias mais tarde, relatórios confirmaram cada declaração que ele tinha feito a ponto de coincidir com exatidão quanto à hora em que Swedenborg tinha recebido sua primeira impressão. A segunda foi quando ele visitou a Rainha Louisa Ulrika da Suécia, que lhe pediu que contasse a ela algo sobre seu irmão falecido, o Príncipe Augustus William da Prússia. No dia seguinte, Swedenborg cochichou algo em seu ouvido, o que fez a Rainha ficar pálida, tendo ela explicado tratar-se de algo de que somente ela e seu irmão podiam ter conhecimento. A terceira foi uma mulher que tinha perdido algo importante e veio a Swedenborg perguntando se uma pessoa morta poderia dizer a ele onde estava o objeto, o que ele também fez na noite seguinte.


Immanuel Kant, então no início de sua carreira, ficou impressionado com tais relatos e fez investigações para saber se eram verdadeiros. A princípio, ele não encontrou falha nos relatos, mas, em 1765, ele concluiu que dois deles tinham "nenhum outro fundamento que não a lenda popular" (gemeine Sage). Ver Träume eines Geistersehers, de Kant.


Estes acontecimentos são qualificáveis como sendo, com as devidas ressalvas, o que o Espiritismo chama de acontecimentos mediúnicos. Outros relatos apontam que conversava com os espíritos, como mostram dois relatos seus reproduzidos por Conan Doyle: Falando da morte de Polhem, disse Swedenborg: Ele morreu segunda-feira e falou comigo quinta-feira. Eu tinha sido convidado para o enterro. Ele viu o coche fúnebre e presenciou quando o féretro baixou à sepultura. Entretanto, conversando comigo perguntou porque o haviam enterrado, se estava vivo. Quando o sacerdote disse que êle se ergueria no Dia do Juízo, perguntou por que isso, se êle agora já estava de pé. Admirou-se de uma tal coisa, ao considerar que, mesmo agora, estava vivo. (Doyle, pg 40)

Brahe foi decapitado às 10 horas da manhã e falou comigo às 10 da noite. Esteve comigo, quase que ininterruptamente durante alguns dias. (Doyle, pg 41). Em sua primeira visão, Swedenborg fala de "uma espécie de vapor que se exalava dos poros do meu corpo. Era um vapor aquoso muito visível e caía no chão sobre o tapete" (Doyle, pg, 37). Tal descrição corresponde àquilo que os espíritas e outras tradições espiritualistas chamam de ectoplasma, substância produzida pelos médiuns em todos os fenômenos ditos de efeitos físicos. Logo, dentre as habilidades mediúnicas de Swedenborg, além de clarividência (estado sonambúlico), vidência mediúnica (estado de vigília) e audiência mediúnica, soma-se a de efeitos físicos.


Desde o dia da sua primeira visão até a sua morte, vinte e sete anos depois, esteve ele em contínuo contato com o outro mundo (Doyle). Na mesma noite, disse Swedenborg, o mundo dos espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o senhor abria os olhos do meu espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e espíritos. (Doyle, pg. 36).


Principais invenções e descobertas


Cérebro e pulmões
Swedenborg descobriu que o cérebro tem um movimento regular igual ao do coração. O fluido espiritual ou espírito animal, tal como aprendemos, tem sua origem no cérebro e é enviado a todas as partes do corpo pelos impulsos do cérebro. "O movimento do cérebro é denominado animação; e a ação do fluido espiritual depende dele (Parte I, nº 279). Toda vez que o cérebro se anima, seus fluidos são bombeados para as fibras e os nervos; tal como o coração, a cada sístole e diástole, bombeia o sangue através de seus vasos (ibid. nº 483). Imaginar a circulação do fluido sem uma força motriz e uma expansão ou constrição reais como a causa propulsora, seria o mesmo que conceber a circulação do sangue vermelho através das artérias e veias sem o coração (Parte II, nº 169). A circulação desse fluido merece ser chamada de círculo vital (ibid., nº 168)". (Æconomia Regni Animalis, E. Swedenborg).


Máquina elevadora de minério
Inventada por Swedenborg para uso na indústria de mineração, a máquina elevadora era movida por uma roda d´água e composta de um sistema de eixos e mancais, servindo para trazer à superfície pequenas caçambas de minério. Vários outros equipamentos e sistemas foram projetados e construídos por Swedenborg para desenvolver a indústria de mineração sueca, e a mineralogia foi assunto de algumas de suas publicações, inclusive contendo descobertas para aperfeiçoamento dos processos químicos.


Durante uma guerra, no evento conhecimento como um cerco de Frederikstad, a esquadra da Suécia ficou sitiada e impossibilitada de alcançar alto mar. Swedenborg, então, projetou e construiu um sistema de guindastes e trilhos, pelo qual fez transportar uma esquadra de 8 barcos de guerra, por terra, de Strömstad a Iddefjord, numa distância de 14 milhas inglesas, através de uma península, pondo a esquadra novamente em condição de combate.


Alto-forno
Projeto de Swedenborg para um alto-forno para a siderurgia de minério de ferro.


Teoria atômica
Dr.Thomas French, da Universidade de Cincinnati, EUA, afirmou que Swedenborg, em seu livro Principia, publicado em 1734, enunciara os fundamentos das seguintes teorias da ciência moderna: a teoria atômica; a origem solar da Terra e dos planetas; a teoria ondulatória da luz; a hipótese nebular (cuja validade foi enfaticamente atestada pelo Professor Holden, ex-membro do Observatório Naval dos Estados Unidos da América, em artigo publicado na revista The North American Review, de outubro de 1880); a propriedade motora do calor; a relação entre magnetismo e eletricidade; a eletricidade sob forma de motricidade etérea e as forças moleculares como ação de um meio etéreo.


Hipótese nebular
A teoria que Swedenborg publicou em seu Principia, em 1734, "explica a formação do sistema solar por partículas hipotéticas se projetando do sol em espirais e se juntando para formar os planetas. Esta teoria é de particular importância na história da ciência, visto que foi apropriada por um astrônomo inglês, chamado Thomas Wright, de Durham. A obra de Wright serviu de base para a obra de Immanuel Kant, "A História Geral da Natureza e a Ciência dos Céus". A obra de Kant foi, por sua vez, incorporada por Laplace, em 1792, à publicação que hoje é conhecida como "Teoria nebular de Kant e Laplace". E a obra de Laplace é citada como sendo a origem da cosmologia moderna". (Robert H. Kirven, Ph.D, na obra A Continual Vision, Swedenborg Foundation, NY).


Máquinas de transporte e içamento
Para uso industrial e militar, Swedenborg projetou máquinas de transporte e içamento pesados.


Estrutura da mente
"Num manuscrito de 1740, intitulado Psychologia Rationalis, Swedenborg descreve a mente (mens) como a parte consciente e pensante. A mente está em comunicação com o "animus", mas é distinto deste, que envolve as sensações físicas e o controle motor, e a "anima", que se refere às afeições e motivações. Embora não seja precisamente igual ao esquema de Freud de id, ego e superego, essa estrutura antecipa em quase 150 anos a distinção freudiana entre o consciente e o subconsciente".(Robert H. Kirven, Ph.D, na obra A Continual Vision, Swedenborg Foundation, NY).


"Máquina de voar nos ares"
Em 1714, projetou uma máquina que foi considerada pelo órgão Journal of the Royal Aeronautical Society, da Inglaterra, ser "primeira proposta racional de um aeroplano", porque previa superfície abaulada para sustentação pela diferença de pressão atmosférica, um sistema propulsor e trem de pouso. Este invento foi assunto do livro "Swdenborg´s 1714 Airplane", (Swedenborg Foundation, NY) de Henry Sorderberg, que contou com o apoio do Rei Carlos XVI, da Suécia, e da companhia aérea SAS. Swedenborg nunca construiu um modelo de sua máquina voadora, talvez desestimulado por seu amigo e mestre, Chistopher Polhem. Este argumentou que "voar por meios artificiais seria tão difícil quanto achar o ‘moto perpetuo’ ou produzir ouro artificialmente, embora, à primeira vista, isso possa parecer fácil e viável".


Método astronômico
Recém-formado em Engenharia, Swedenborg desenvolveu um método para determinar a longitude da Terra com base na Lua, pelas paralaxes. Hoje, é tido como a mais significativa de suas primeiras descobertas. Embora não tenha sido bem acolhido pelos sábios da época, Swedenborg sempre insistia que seu método era "o único que pode ser enunciado, o mais fácil e, de fato, o correto". Sua confiança nele era tanta, que o republicou, por diversas vezes, entre 1718 e 1766, em latim e sueco. Esse tratado recebeu crítica favorável da Acta Literaria Sueciae, de 1720. O editor afirmava que o tratado de Swedenborg era superior a todos os que tinham sido formulados até àquela data. O Acta Eruditorum, de 1722, publicado em Leipzig, também faz muitos elogios à sua invenção.


Estruturas cerebrais
"No manuscrito Cérebro, publicado postumamente, ele localizou o processo do pensamento no córtex do cerebelo e identificou aquilo que mais tarde se chamou de 'células piramidais' como sendo ligadas umas às outras e a todas as partes do corpo, para funcionar como receptoras dos sentidos e diretoras dos movimentos. Esta descoberta se deu meio século antes de vir a ser do conhecimento da comunidade médica. Poucos anos mais tarde, nos Arcanos Celestes, observou, em vários contextos, que os hemisférios direito e esquerdo do cérebro desempenham funções específicas e distintas, o esquerdo estando envolvido com os processos racionais e intelectuais, e o direito com as afeições e intenções". Robert H. Kirven, Ph.D, na obra "A Continual Vision, Swedenborg Foundation, NY.


Outras invenções
Entre outras de suas invenções, destacam-se ainda: o "projeto de um navio que podia mergulhar com sua tripulação ao fundo do mar e causar grandes danos à armada inimiga"; um sistema de comportas nas docas para suspender navios cargueiros; um sistema de moinhos impulsionados pela ação do fogo sobre a água; uma metralhadora pneumática capaz de dar de sessenta a setenta tiros, sem recarregar.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Emanuel_Swedenborg





Seguem alguns textos que eu trouxe do blog Mude



DESMANDAMENTOS

1. Ame a Vida sobre todas as coisas.
2. Não obedeça a ordens, exceto àquelas que venham do teu próprio coração.
3. A felicidade está dentro de você: não a procure em nenhum outro lugar.
4. O amor livre é a mais religiosa de todas as orações.
5. Deus é a única porta para a verdade.
6. A vida só existe aqui e agora.
7. Não corra: dance.
8. Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
9. Viva acordado, em todos os sentidos.
10. Pare de buscar: o que é teu já te pertence.




AVENTURA

Eu quero agora te propor uma aventura:
Imagine que hoje é o teu último dia de vida.
Faça tudo o que você mais gostaria de fazer hoje — antes de morrer. Dê um pouco de atenção àquilo que realmente importa. Desfaça-se de tudo que não presta. Jogue fora todas as quinquilharias. Desapegue-se das bugigangas. Despreocupe-se. Olhe bem as tuas coisas, avalie calmamente os teus sonhos e projetos, sobrevoe o teu mundo. Despeça-se (mentalmente, se for o caso) dos teus amigos e dos teus amores preferidos. Em seguida, escolha os maiores prazeres que você puder imaginar — e sinta-os, em todos os Sentidos. Procure cometer até mesmo aquelas pequenas loucuras que você vem sempre adiando — por medo, por vergonha ou por preguiça.
E lembre-se: só hoje é hoje.
Por isso é que hoje tem que ser um dia inesquecível!




EU FALO DE AMOR

Eu falo de Amor e Liberdade. Por isso meu verbo não se admira: só causa espanto. Acontece que escrevo para loucos brilhantes e livres de espírito. Aqueles cujos espíritos são meio escravos ou cujas loucuras não brilham tanto, talvez não gostem do que eu digo. E nem devem mesmo gostar. Minha literatura é feita de excessos. Tem cadência, alegria e pulsação... Como já disse, eu falo de Amor e Liberdade — e sei como se ama. Mas não pretendo ensinar nada a ninguém. (...) Não busco aprovação alheia, nem quero aplausos. Só quero provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você é. No fundo, eu quero apenas questionar todas as verdades, esmagar todas as convicções — inclusive as tuas, mas especialmente as minhas.




JAMAIS ILUDA O TEU AMOR

Eu disse "Jamais iluda o teu amor", mas fico pensando. E se o teu "amor" é um ditador? Se aquele teu amor, antes tão maravilhoso, acabou virando um ditador? O que fazer? Meu conselho: abandone-o, simplesmente. Ou fuja dele. Contudo, se as circunstâncias ainda não permitem, faça teatro. Engane-o. Ditadores merecem ser enganados.




OLHAI OS LÍRIOS DO CÉU

Eis uma verdade incontestável: todos os grandes mestres — religiosos ou não — desde os primórdios da História, nos dizem que o apego é a doença mais grave que pode acometer um ser humano. Olhai os lírios do campo e os pássaros do céu, dizia um deles. O apego está na origem da corrupção, da inveja, da cobiça, do roubo e do ciúme — entre outras maldades. É uma demonstração cabal de insegurança e falta de personalidade. Entretanto, se você tiver necessidade compulsiva de apegar-se a alguma coisa, apegue-se logo a uma BMW conversível, e não a uma canequinha de lata. Por que amar um crocodilo se você pode amar um Deus? Apegar-se a uma coisinha comum, é imperdoável. É como apegar-se a uma canequinha de lata, ou a um saquinho de tranqueiras... É ridículo.




A VIDA É UMA FLORESTA

Eu abro uma picada na floresta e me dou bem. Eu adoro abrir picadas na floresta. Esta é a minha função preferida. Mas você tem que abrir a sua própria: experiências não se transmitem. Não queira seguir esta que eu abri, nem siga, muito menos, aquela que os normais dizem ser a única. Há milhares — e cada um tem que abrir a sua. Eu posso apenas te emprestar a foice, amorosamente. E te ajudar a afiá-la de vez em quando. O resto é com você.




VITÓRIAS

Tem grandes vitórias que nada significam, pois acabam efêmeras, insossas e sem graça. E tem pequenas vitórias que são doces e graciosas, e nos levam ao pico sublime do êxtase. Então, podemos concluir que a essência da vitória não está no seu tamanho ou impacto inicial, mas sim no seu valor e elegância. Ou seja, a pequena pode ser grande, e a grande, minúscula. O mais importante é saber a diferença entre elas — e gozá-las ambas, sem apego e sem vanglória.




MINHA ALEGRIA É INVULNERÁVEL

Quando alguém expressa um pensamento com o qual eu não concordo — sobre mim ou sobre a vida, sobre amor ou religião, sobre a Dilma ou futebol — não me sinto nem um pouco ofendido. Afinal, são milhares de pessoas pensando e emitindo opiniões a respeito dos mais variados assuntos. (...) Portanto, seria insensato estressar-me a partir dessas alheias conclusões. Respeito as opiniões, mas deixo-as onde estão, pois seria um absurdo condicionar o meu humor a esses múltiplos estímulos. Minha alegria é invulnerável. Sofismas não me atingem. Cada um de nós é um ser único. O que é bom para o outro pode ser péssimo para mim — e vice-versa. Cada um de nós pensa com sua própria cabecinha. Suponho. E sugiro que você encare as críticas também da mesma forma.



ESTADOS DE ESPÍRITO

O domínio absoluto sobre os meus estados de espírito é minha maior conquista como ser humano. Há mais de vinte anos que não perco a calma. Há mais de vinte anos que não brigo, não xingo, nem fico com nozinho na garganta. Não há motivos que me abalem.
Como consigo? — você pode perguntar.
É muito simples: dou valor secundário às coisas secundárias, e considero secundário tudo aquilo que não tem o poder de causar mudanças significativas no rumo da minha vida.
É muito simples — e é uma delícia!
Experimente.



SEM MEDO E SEM CONTROLE

Sem sono, sem fome, sem culpa e sem dor. Sem ciúmes, sem pressa, sem apego e sem pressões. Sem expectativas, sem promessas, sem cobranças. Sem vergonha — e sensível. Sem medo e sem controle, sem ódio e sem juízo. Conseguindo equilibrar-me no instável, no insólito, e no incerto. Amado com delícia e liberdade, e amando com grandeza e ousadia.

Passageiro numa bela viagem sem destino, percorrendo caminhos ainda não trilhados. Ficando cada vez mais contente, encantado e fascinado com os novos horizontes. Adorando as surpresas todas no momento em que acontecem, e vivendo a primavera em qualquer das estações.

Quebrando barreiras, de modo irreversível.

Ultrapassando limites.

Buscando (e encontrando) a essência de cada coisa nela mesma. Compreendendo as razões também daqueles que não conseguem me compreender. Podendo até ser julgado por minhas atitudes desprendidas e por meu comportamento fora de padrão. Podendo ser julgado, mas condenado — jamais. Vivendo o mais profundo, o mais criativo, o mais sensual, o mais inocente e o mais sagrado período da minha vida. Sugando a doçura de todas as coisas... Vivendo as maiores e melhores paixões da minha vida, e vibrando com tudo que me toca. Sentindo-me a cada momento como se Deus me cobrisse de beijos, flores e estrelas. Dançando nas minhas próprias e nas tuas emoções.

Inundado de carinho e gratidão.

Com a cabeça nas nuvens — e o coração no infinito.

Portanto, o que mais posso eu querer da vida, além de amores breves e brilhantes, crepúsculos cor de abóbora na praia que eu prefiro, óleo de amêndoas doces, dúzias de rosas brancas e vermelhas, duas ou três taças de vinho transbordantes, muita liberdade, alegria, saúde, poesia, gostosura... e tempo livre para viver tudo isso?

O que mais posso eu querer da vida?!



BIG BOOM

Há hoje no meu peito uma explosão em vias de acontecer. Contida pelo seu próprio desejo de ser maior, ela se alimenta com o sangue vermelho das minhas paixões. Ela respira, pulsa, espera, espreita, suspira, prepara-se como se preparasse um salto. Há hoje dentro de mim uma deliciosa explosão em vias de acontecer. Mas os sentidos são duplos: encontrar-me apenas como metáfora de mim é a maior das perdições. A vida é uma floresta.




E NÃO VAI DAR PRA SALVAR TODO MUNDO

Quando vejo uma criança brincando ali na praia numa saída de esgoto, pensando ser aquilo um riozinho quente de água doce; quando vejo a branquela estendida na areia, queimando-se mais do que pode nesse sol de meio dia e se arriscando a um câncer de pele; quando vejo o jovem imbecil fazendo sincera declaração de amor à sua noiva, prometendo fazer tudo por ela — pensando seriamente em se casar, constituir família, ficar responsável; quando vejo o gordinho esparramado feito porco na esteira de palha, ressonando após ter comido um prato cheio de gorduras e tomado cinco ou seis latinhas de cerveja; quando vejo o senhor grisalho pensando em negócios à beira do mar e falando ao telefone em vez gozar a vida; quando vejo um casal de burros solidários tomando seu segundo sorvete; quando vejo essas coisas, chego a pensar: — será que eu devo ir lá? — cutucar cada um deles, chamar-lhes à razão, e dizer: “Ô criança; Ô gordinho; Ô branquela; Ô jovem, Ô senhor, Ô senhora: — Tomem cuidado: vocês estão fazendo besteira... Vocês vão acabar se fodendo!”

Você acha que eu deveria me preocupar com esses descuidados, tentar salvá-los, mostrar-lhes o caminho da verdade, da saúde, da vida, da liberdade, do amor?
— Não!
Que se fodam, portanto.
E que leiam as mágoas de Florbela Espanca.



Fico me lembrando.



Dizem que havia uma colônia de vermezinhos sonolentos no fundo de um lodaçal. De vez em quando, sem nenhuma razão aparente, alguns subiam à superfície e nunca mais voltavam. Isso deixava perplexos aqueles que permaneciam. O que será que tem lá em cima, que tipo de perigos haveria? – eles se interrogavam, entre um bocejo e outro. Até que certo dia um deles acordou, pôs a mão no coração e prometeu aos seus irmãos: “Vou subir e depois volto para contar a vocês como é o mundo lá em cima.” Preparou-se bem, leu Nietzsche, armou-se de coragem, estudou, meditou, desfez as malas, aguou suas plantinhas, despediu-se dos amores — e subiu. Mas, assim que chegou à superfície, viu Luz, transformou-se numa libélula, entusiasmou-se — criou asas — e voou livre como um louco para o azul do céu...
E agora já não pode mais retornar ao fundo do lodo.
Morreria se voltasse!

Certas promessas jamais serão cumpridas.
Assim como certas metáforas jamais serão compreendidas!



A propósito disso e quando penso naquele meu contador, vinte e cinco anos de opressão conjugal, sinto uma vontade fraternal de lhe fazer uma pergunta, olhando bem fundo nos olhos dele, e dizer:
— Querida minhoca, por que você, em vez de continuar cavoucando, não cria asas — e voa?

Mas logo me contenho: um contador nunca entenderá um poeta.





Confesso: tem segredo que guardo como se meu. Por exemplo: pensei em chamar este livro de “Bíblia Sagrada – volume 2. Edição revista e ampliada”. Sou louco, mas nunca digo que tenho o poder da cura: pois haveria então enorme procissão de desgraçados querendo tocar-me o manto sagrado com as pontas sujas dos seus dedos trêmulos. Uma horrorosa multidão de enfermos desvalidos ao redor de mim, buscando a cura para seus males de amor. Bando de lazarentos rondando ansiosos minhas doces alegrias. Não — eu nunca vou dizer que tenho o poder da cura! Não sou louco! Em verdade, só posso curar aqueles que já são saudáveis, e me curam antes...




CADA UM POR TODOS, DEUS POR SI.

Assim como Sócrates, eu sigo sempre um raciocínio para onde quer que ele conduza. Mas não é só meu cérebro que cria conceitos. Sigo também meu coração, para onde quer que ele conduza.

Só tem uma coisa pior do que morrer: — é viver pouco.








O maior amante do Mundo.

Sinto-me Leonardo, hoje.
Noite de outubro do ano passado, Guarujá, SP.
Chove.

Diz ela que tem dezessete anos, mas não deve passar de quatorze. Talvez treze, ou até mesmo doze. "Uma criança" — eu penso. Os peitinhos infantis, despontando, meio tímidos, quase cobertos por um sutiãzinho de crochê azul-marinho. Peço-lhe que feche a blusa: dentro do carro não vai conseguir cliente. No banco de trás, essa criança. No banco da frente, a coadjuvante — cerca de vinte e cinco anos, magra, bonita, mas desprovida de charme — portanto, feia.
Dei-lhes carona por duas razões: primeiro, por serem mulheres, e, depois — por causa da chuva. Sinto-me Leonardo outra vez, principalmente quando me lembro do nome da "criança".
Depois de alguma conversa, olho para trás, e pergunto:
— Desde quando você faz programa?
— Faz tempo...
— Quanto tempo?
— Quase um ano — ela responde, sem me olhar.
Não sorri.
Fria como pedra gelada.
"Aspirante a profissional" — suponho.
Criança, em quase todos os sentidos. Perninhas frágeis saltando com audácia de potranca recém parida por baixo da saia azul curtíssima. Os gestos querendo, em vão, aparentar profissionalismo, certezas, naturalidade. Ágil no olhar de felino, pulsando fagulhas de um falso fogo noturno, pequena, de poucas palavras. Certamente, ainda tentando descobrir o seu mundo.

Pergunto-lhe como escolhe os homens com quem transa. Me diz que não os escolhe: — aceita todos, desde que paguem pelo serviço. Não: nunca encontrou um bruto que a machucasse muito. Não: não pretende mudar de vida. Não: parou a escola na terceira série. Não: nunca leu um romance. Não: nunca teve um orgasmo. Também não: o namorado fugiu depois de ter matado uma mulher que "folgou" com ele. Não também: não pretende voltar a estudar: — "é muito chato..."

É a caçula de quatorze irmãos "por parte de mãe". E o pai tem mais sete com outra mulher...
— Vinte e um! — eu me espanto.
— Você é inteligente — me diz. — Fez o cálculo rápido...
E me sinto Leonardo de novo.
Rápido.
"Mas ela está perdendo seu tempo aqui", concluo. Devo deixá-la seguir sua vida. O destino talvez a aguarde na próxima esquina, para lhe pregar mais uma peça nesta noite chuvosa.
Resolvo lhe perguntar:
— Você faria um programa comigo?
— Claro, se você pagar... — ela continua sem sorrir.
Entre nós, pedaços de um destino transformado.
A novidade me excita.
Pergunto-lhe quanto cobra. Ela responde. Uma ninharia, eu acho. E me perco no que pretendo fazer.
Mas topo.
Peço para a feia (e muda) descer, e ela — "a criança" — passa para o banco da frente. Se tem pressa: não, "desde que a gente termine antes das cinco".
(Deve ser meia-noite.)
Vamos até minha casa, o porteiro me olha espantado.
Subimos.
Ela adora elevador.
Não: ela não toma licor. Não: não quer coca-cola. Não: nem sucrilhos com leite. Não: nunca viu um computador. Não: nunca leu poesia, mas tem um caderninho onde copia "versos". Não: ninguém já lhe fez uma poesia de amor. Não: também não está com fome. Não: não quer ver a lua.
Não quer nada.
— Só quer "começar logo".

Não sabe o que fazer com as diferenças que encontra pela vida que a leva, ainda lhe falta a perda dessa ingênua santidade.

— Quando é que você vai começar? — me interroga, sentada numa cadeira ao meu lado, enquanto digito uma poesia de amor.
— Já comecei — eu lhe respondo.
("Já começamos" — me corrijo mentalmente.)
Ela me olha com seus olhos de criança.
Criança profissional...
Não: nunca sentiu um perfume francês. Tento lhe mostrar o quão gostoso é o Fleurs de Rocaille, mas ela não se interessa. Não: não sabe onde fica Paris. Não sabe o que é o Louvre, nunca ouviu falar de Sartre, Camus, não sabe o que é mousse de chocolate.
— Espuma do mar também é muce? — me pergunta, curiosa.
Sim, eu digo. E então lhe peço:
— Posso ver os teus seios?
Ela desabotoa a blusa, desamarra o cordãozinho na nuca, desce o sutiãzinho, tudo com a maior naturalidade. "Não precisa tirar o sutiã" — eu lhe digo, mas acabo olhando de relance seus peitinhos delicados, frutinhas doces que eu bem poderia chupá-las agora, se fosse mais bruto e menos Nietzsche:

"Para naturezas orgulhosas, uma presa fácil é algo desprezível".

Enquanto amarra de novo a alça do sutiã, fico pensando: "Por que é que não posso fazer amor com ela, se é isso mesmo que ela faz? Por que não posso amá-la como nunca ainda foi amada? Por que não tocar o seu clitóris com o maior amor de que sou capaz, hoje? Por que não mostrar à lua sua nudez de criança inocente? Por que não errar outra vez?"

Ela termina de fechar os botões da blusinha, devagar, e continuamos conversando sobre a vida. Pergunto-lhe da sua, falo da minha. Dez minutos depois ela esboça um pequeno sorriso.

Explico-lhe o que é uma metáfora.

Mostro-lhe o "Beijo no céu da boca". Ela toma meu livro de capa azul nas mãos pequeninas, lança-lhe os olhos ávidos de coisas e letras, resmunga o que lê em silêncio. Balbucia. Parece que não acredita no que vê, nem vê aquilo em que acredita. Impuros porque alheios, seus lábios são finos nos dois sentidos, verticais absolutas que se movem para o nada.

Leio alguma coisa de Baudelaire em voz alta para ela.
— Que língua é essa? — pergunta.
Falo.
Depois traduzo, mais ou menos, e ela só diz:
— Bonito.
Tiro Vangelis e coloco um outro CD, ao acaso. Ela não consegue pronunciar "Bruce Springsteen" de jeito nenhum. Gosta da música Streets of Philadelfia:
— Bonita.
Cerca de vinte minutos depois, ela quase ri, ainda sem desgrudar muito os lábios um do outro.

Conto-lhe a história de Leonardo da Vinci.
Não: nunca foi a um museu. Não: nunca foi a um cinema.
E a conversa continuou assim.
Meia hora depois, essa criança maravilhosa dá uma risada, quase gargalha, com a boca cheia de chocolate, e os olhos brilhando de alegria. Mas, parece que mastiga os chocolates como se mordesse o mundo, tem dentes de amor para triturar desejos.
Quer saber das horas.
E outra vez me pergunta:
— Você não quer mesmo fazer amor comigo?
— Já estou fazendo amor com você! — respondo.
— Você é estranho...
— Eu sou diferente.
— Acho que você é louco... Nunca vi um cara assim.
— Sou diferente, porque meu amor é diferente: sou puro. Sou inocente.
Ela me olha, de soslaio.
Talvez não acredite. Nem deveria mesmo acreditar.
Levanta-se e lê um dos bilhetes pregados nas portas de vidro do terraço. Fica olhando as fotos. E diz:
— Quem é Fernanda? Tua namorada?
— Uma delas.
— Você tem muitas? — pergunta, sem parecer nem um pouquinho espantada.
— Muitas...
— Cada bilhete desses é de uma diferente?
— Às vezes algumas escrevem mais do que um — digo.
— Por que tantas?
— Porque sou "o maior amante do mundo" — brinco.
Ela sorri, senta-se novamente.
E me olha:
— Posso pegar um chocolate pro meu irmãozinho?
— Claro: a caixa é toda tua. Pode levar...

Naquele momento, tive uma enorme vontade de colocá-la no meu colo, e contar-lhe todas as histórias que sei de duendes e magos, e fadas e deusas. Cobrir o seu corpo com um lençolzinho branco de algodão, e fazê-la dormir nos meus braços repletos de amor.

Tive vontade de salvá-la toda de si mesma.

(Mas já não havia mais tempo.)

Na saída, dei-lhe uma blusa de lã, que era da Joyce, e a levei até perto de sua casa, deixei-a na esquina, paguei-lhe o combinado.

E voltei chorando.

(Se fosse de outra forma, não seria tão bom. Se tivesse acontecido de qualquer outro modo, eu teria deixado de ser o maior amante do mundo.)

E foi assim que amei Mona Lisa:
— Como um Deus.

Monalisa Machado da Silva, era seu verdadeiro nome. Uma criança, meus amores. Fechem as janelas, e baixem as cortinas desse teatro absurdo que é o mundo.
Mas não me aplaudam.
Chorem também, se conseguirem.

Pode ser que nunca mais eu a veja. Mas, se um dia, por acaso, Mona Lisa tiver conseguido sobreviver àquela sua morte brutal, e crescer, e se, também por acaso, nos encontrarmos nos caminhos quebrados da vida, vou entregar-lhe o orgasmo divino — esse mesmo que ainda hoje guardo comigo — e que ela talvez tenha querido sentir naquela inesquecível noite de chuva em minha casa.

Talvez fosse o seu primeiro — ou até mesmo seu último.

O maior presente que eu poderia ter dado então a ela, mas que, por inocência, não pude.


Edson Marques.



Vou mudar o título para "O dia em que Mona Lisa sorriu".